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Você não é o seu trabalho

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Ei, você não é o seu trabalho

E aí, como anda o trabalho? O Trabalho vai bem, andando com as próprias pernas. Você viu a foto que ele postou ontem? Aliás, ele vai ser pai, uma menininha está a caminho! O Trabs, apelido carinhoso, também acabou de receber uma promoção no emprego, virou vegano, cortou o cabelo, comprou uma passagem para Austrália. Está ótimo! E você, como anda?

É isso o que eu sinto vontade de responder quando me fazem a pergunta do início. Mas como eu receberia olhares estranhos com ar de desaprovação, falo apenas um está bem, obrigada.

Agora, pense e me diga quantas vezes você encontrou um amigo ou parente distante que te perguntou exatamente a mesma coisa, como está o seu curso ou o seu trabalho. Antes mesmo de perguntar sobre sua saúde, seu novo corte de cabelo ou seu relacionamento. Lembre-se, então, dos programas de TV que você assistiu nos últimos meses. Durante as entrevistas, o que aparece como a descrição das pessoas? Maria, 31, engenheira. Pedro, 27, eletricista. Carla, 50, professora.

É tão, mas tão forte se definir de acordo com a sua profissão ou sua faculdade. Mas, ao mesmo tempo, tão natural. Quanto maior o cargo, mais competente você é. Quanto mais cedo entrar no mercado de trabalho, mais esforçado. Quanto mais benefícios, melhor. Quanto mais tempo você passa no escritório, mais reconhecimento. Quanto mais papel acumulado na mesa, mais sucesso. A vida é assim, alguns diriam. Eu penso que nos ensinaram desta forma e que a gente nunca parou para questionar os porquês. Para questionar se você é o seu trabalho ou esse é o seu trabalho por que você é o que é?

Nós precisamos trabalhar e estudar. Fato. É assim que funciona, nunca duvidei disso. Alguns têm o privilégio de dedicar tempo da sua semana a algo que gostem e se identifiquem, enquanto outros, a grande maioria, segue o curso natural: faz o que dá, o que aparece. E se o seu trabalho não foi uma escolha, ele ainda representa sua individualidade?

Não é errado incluir sua profissão na sua descrição ou falar o que faz ao conhecer alguém novo. Porque, ué, isso é grande parte da nossa vida! Mas se nós nos apresentássemos como uma caixinha para o mundo, que têm várias coisinhas escritas, você gostaria que o seu trabalho fosse a principal delas, em letras neon grandes que piscam?

Esses, na verdade, são só alguns dos rótulos que ganhamos ao longo dos anos. Até ano passado, por exemplo, eu era estudante de jornalismo. Daqui a alguns meses, estudante de nutrição. Por isso, eu devo entrar em uma crise existencial? Não, nada disso! Felizmente, percebi que minha vida não é puro caos porque eu ainda não descobri o curso dos sonhos ou porque não estou em um emprego legal. E o meu amigo, por outro lado, não é melhor por ter certeza da sua carreira.

Me sinto totalmente presa a algemas invisíveis quando alguém me resume a minha vida acadêmica e profissional. Tenho vontade de gritar: ei, eu não sou só isso! Essa é só uma pequena parte de nós, que mostra apenas um dos lados da nossa personalidade. Seu trabalho e sua faculdade não são tudo. Porque eles passam, acabam, mudam, se transformam. Você fica. Quem você é sempre está aí. Não há carreira que defina a sua complexidade, sua integridade. Você é muito mais do que isso.

Da próxima vez que você conhecer e conversar com alguém, pergunte o seu prato de comida preferido, qual foi o último filme que assistiu, qual é cor da parede do seu quarto. Pergunte da sua infância, seu primeiro beijo, seu melhor amigo, seus sonhos. Fale sobre música, flores, viagens e amores. Depois, talvez, e aí, como anda o emprego?

E, então, além do diploma e da carteira de trabalho, quem é você?

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